XXII SEMINÁRIO DOS
ESTUDANTES DO PPGF-UFRJ
24 A 28 DE NOVEMBRO DE
2014
Instituto de Filosofia e
Ciências Sociais
Largo do São Francisco, 1
– Centro – Rio de Janeiro – RJ
Sala
Celso Lemos
RESUMOS
DOS TRABALHOS
SEGUNDA
24 DE NOVEMBRO
12:20
H – KANT
Moderação
do doutorando Flávio de Britto Pinto
•
Simultaneidade e Fragmentação na
Estética Kantiana
Mestrando
Irlim Correa Lima Júnior – PUC-Rio
•
Sobre a emergência da Filosofia da
Natureza de
Schelling
no contexto da Filosofia Crítica
Doutorando
Daniel do Valle Pretti – PPGF/UFRJ
•
A herança de Hume ao pensamento teórico
de Kant
Doutorando
Rômulo Martins Pereira – PPGF/UFRJ
• Simultaneidade e fragmentação na
estética kantiana
Mestrando Irlim
Corrêa Lima Júnior
PPGF/PUC-Rio – CAPES
Orientador: Edgar de Brito Lyra Netto
Demonstraremos
como que, com os questionamentos sobre a ideia de beleza na Crítica da Faculdade do Juízo, muito
embora esparsos, a filosofia estética kantiana problematiza o fenômeno da arte
sob o signo do simultâneo, do fragmentário e, em última instância, do
indizível.
Com
efeito, a ideia de beleza deve ser pressuposta como um postulado que confira
unidade e identidade à multiplicidade dos fenômenos artísticos, tornando viável
pensar a partir deles uma possível “essência” da arte que possibilita essa
multiplicidade e que, ao mesmo tempo, de cada obra se elide. Porém, se a ideia
estética da beleza não pode ser conhecida ou apresentada de maneira alguma, há
a possibilidade de que manifestações estéticas singulares se mostrem como lhe
sendo limitadamente adequadas, isto é, como ideais.
Tal
idealidade do fenômeno estético nos franqueia caminho para pensar as relações
temporais das obras de arte em remissão a essa unicidade universal indizível.
Urge pensá-la sob o aspecto fragmentário dessa miríade de manifestações,
porquanto seja impossível que nelas a ideia se anuncie ou se presentifique como
um todo.
Além
disso, a temporalidade da obra de arte se constitui também pela simultaneidade
de referência entre a própria obra e sua essência, entre o ideal e a ideia, que
não é da ordem da representação, mas da originalidade. Com isso, poderemos
pensar a arte como síntese entre fenômeno de criação e liberdade, dando
cumprimento à vocação da razão de realizar no mundo a liberdade.
Palavras-chave:
Kant; estética; simultaneidade.
•
Sobre a emergência da Filosofia da
Natureza de Schelling
no contexto da Filosofia Crítica
Daniel do Valle
Pretti
PPGF /UFRJ – CAPES
Orientadora: Carla Francalanci
Talvez
uma das principais metas do movimento filosófico posteriormente conhecido como
Idealismo Alemão tenha sido erigir um sistema total da razão que consolidasse
as conquistas da filosofia crítica de Immanuel Kant. Mesmo que, para tanto,
cada um a seu modo, os filósofos de tal movimento tivessem que correr o risco
de ir contra a letra do texto kantiano, em nome de resguardar o espírito da
crítica. Fichte é o primeiro filósofo a propor um tal sistema, colocando a
identidade absoluta do Eu como princípio primeiro do saber. A proposta de
Fichte logo chama atenção do jovem Schelling, que rapidamente é reconhecido
como seu seguidor, ao mesmo tempo em que vai expondo e amadurecendo sua própria
proposta de sistema fundamentado em uma Filosofia da Natureza.
Em
nossa comunicação abordaremos a interpretação de Schelling da Filosofia
Transcendental de Fichte como herdeira da filosofia crítica de Kant e, mais
especificamente, por que Schelling vê a necessidade de propor uma Filosofia da
Natureza que, ao menos até a obra Filosofia do Idealismo Transcendental de
1800, a complemente. A Filosofia da Natureza de Schelling buscará resguardar
certa inteligibilidade própria à natureza, assim como, evitar cair em um
dogmatismo pré-crítico.
Palavras-chave:
Schelling, Filosofia da Natureza, Filosofia Transcencental
• A
herança de Hume ao pensamento teórico de Kant
Rômulo Martins
Pereira
PPGF/UFRJ – CNPq
Orientador: Fernando Augusto da Rocha
Rodrigues
Em
sua “Introdução” à Crítica da Razão Pura, Kant formulou o seu problema
fundamental do seguinte modo: Como são possíveis juízos sintéticos a priori? Ora,
para chegar a essa formulação, Kant certamente percorreu os diferentes
questionamentos dos distintos sistemas filosóficos do século XVII e XVIII.
Dentre essas muitas heranças, destaca-se a figura do filósofo escocês David
Hume, a quem Kant faz menção em seus Prolegômenos
a toda Metafísica futura como
tendo sido o responsável por tê-lo acordado de seu “sono dogmático” – ou seja,
da sua prévia convicção de que a filosofia poderia proceder analiticamente,
apenas por meio de conceitos puros, a fim de estabelecer conhecimentos
universais (a priori).
Desse
modo, se tivermos também em conta que Kant, na Doutrina Transcendental do Método, apresenta a sua Crítica e,
consequentemente, o seu método crítico, como sendo a culminação dos seus
esforços de tentar resolver os questionamentos filosóficos de sua época, não
será, de todo modo, vão tentarmos estabelecer em que sentido se pode
interpretar essa suposta herança humeana em seu pensamento. É isso o que
buscaremos mapear, em linhas gerais, no presente trabalho: em que sentido
podemos interpretar que o caráter sintético que Kant afirma para o pensamento
em geral tem determinados pressupostos na filosofia de Hume e, em específico,
na sua crítica a nossa noção de causalidade?
Palavras-chave:
Hume; Kant; causalidade.
SEGUNDA
24 DE NOVEMBRO
15
H – ESTÉTICA
Moderação do doutorando Nelson Neto
•
Rousseau e Voltaire: a querela encenada
Doutoranda
Lucyane de Moraes – UFMG
•
Hegel, Göethe e o fim da arte
Mestrando
Guilherme Ferreira – UFMG
• Nem os
ociosos escapam ao inferno:
notas
sobre vivência do choque, automatismo e modernidade em W. Benjamin
Mestrando
Fernando Araújo del Lama – USP
• Considerações
sobre o estatuto da arte no pensamento de Merleau-Ponty
Mestrando
Edson Lenine Gomes Prado – UFG
•
Alegoria e outros processos construtivos
no Tropicalismo
Mestrando
Guilherme de Azevedo Granato – UFOP
•
A história da filosofia como remix - um olhar comparatista
Doutorando
Rafael Mófreita Saldanha – PPGF/UFRJ
• Russeau
e Voltaire: a querela encenada
Doutoranda Lucyane
De Moraes
PPGF/UFMG – CAPES
Orientador:
Entre
as questões artísticas e filosóficas mais divergentes do século XVIII
registram-se as diferenças entre o pensamento de Rousseau e Voltaire. Se por um
lado Rousseau acreditava que os seres humanos eram corrompidos pelas
instituições sociais, Voltaire pensava que os mesmos eram educados por elas. Em
seu Discours sur les Sciences et les Arts,
Rousseau recusa a ideia de que o progresso da cultura havia contribuído para
depurar os costumes, responsabilizando a civilização de corruptora às ideias
intelectuais do homem, ou seja, da sua liberdade. A partir daí investe contra o
cultivo da ciência e da arte por acreditar que estas contribuíam para o egoísmo
e a insanidade humana, depreciando os sentimentos e a sensibilidade natural do
homem.
Por
sua vez Voltaire, o defensor mais ardoroso das luzes, associando o progresso
das artes e das letras ao avanço geral da cultura, investe na defesa de
D’Alembert contra as idéias de Rousseau acerca do caráter nocivo do teatro,
postulando que as obras dramatúrgicas compartilhavam com a sociedade o
pensamento iluminista acerca da investigação do mundo natural e dos fatos
sociais, ‘iluminando’ a época com a crença no desenvolvimento da razão,
propagando a importância da consciência na apropriação da realidade.
Palavras-chave:
Iluminismo; Arte; Sociedade.
• Hegel,
Göethe e o fim da arte
Mestrando
Guilherme Ferreira
PPGF/UFMG – CAPES
Orientadora: Giorgia Cecchinato
São
várias as aproximações possíveis entre as obras de Goethe e o sistema
filosófico de Hegel, sobretudo, nos Cursos
de Estética onde em diversas passagens Hegel menciona Goethe como seu
interlocutor privilegiado. Neste trabalho, nosso objetivo será o de demonstrar
como, no que tange ao prognóstico hegeliano sobre o “fim da arte”, Goethe
aparece como um interlocutor fundamental para tratar do real estado arte na
modernidade.
Para
esta empreitada, não escolheremos uma obra específica de Goethe para tratarmos
de como Hegel aborda a questão da arte e, mais propriamente, o tema do “fim da
arte”. Seria inviável este tipo de trabalho devido à natureza e especificidade
com que nos propomos. Nossa intenção seria senão, demonstrar como é possível
pensarmos a questão do fim da arte de maneira mais ampla e original, sobretudo,
ao demonstrarmos como a chamada época de Goethe (Goethezeit) serviu de inspiração para Hegel no seu Para isso,
tomaremos como fio condutor da nossa argumentação a poesia dramática (tragédia
e comédia), o supremo estágio da poesia e da arte romântica, que tem Goethe
como seu principal representante para, por fim, apresentamos os argumentos de
Hegel sobre as perspectivas da arte do seu tempo, a saber, do seu “caráter de
passado” enquanto arte, traduzida por vezes como o prognóstico hegeliano sobre
o fim da arte.
Palavras
chave: Hegel; Goethe; Fim da arte.
•
Nem os ociosos escapam ao inferno:
notas sobre
vivência do choque, automatismo e modernidade
em Walter Benjamin.
Mestrando Fernando
Araújo Del Lama
PPGF/USP – FAPESP
Orientador: Ricardo Ribeiro Terra
Trata-se
de pensar a conexão entre vivência do choque, automatismo e modernidade tal
como ela figura no diagnóstico crítico produzido por Walter Benjamin.
Em
seus ensaios sobre Charles Baudelaire, Benjamin enxerga a poesia lírica
baudelairiana como um espelho da modernidade, refletindo suas ambivalências e
contradições e expondo em toda a nudez seus paradoxos. Segundo Benjamin, a
experiência lírica do poeta é até mais verossímil e condizente com a situação
moderna do que sua tentativa de apreensão teórica dela, executada em seus
ensaios de crítica de arte, em especial no célebre ensaio sobre Constantin
Guys, O pintor da vida moderna.
Em
meio a este cenário da recepção benjaminiana de Baudelaire, eu gostaria de
enfocar num aspecto específico: partindo de temas sugeridos sobretudo no
capítulo IX do ensaio Sobre alguns temas em Baudelaire, que versa sobre a
imagem baudelairiana do jogador, procurarei explorar de que modo Benjamin vê
cristalizada, nesta simples personagem, a essência do homem na modernidade,
pautado pela ausência de ligação com a tradição e pela temporalidade
entrecortada pelos choques, minando a possibilidade da experiência (Erfahrung), e pelo automatismo, que
condena até mesmo o ocioso ao eterno recomeçar do sempre-igual (Immergleichen), quintessência da lógica
infernal produzida pela modernidade, sob a égide poderosa da mercadoria,
mascarada, porém, enquanto novidade.
Palavras-chave:
Walter Benjamin; automatismo; desmemoriação.
•
Considerações sobre o estatuto da arte
no pensamento de Maurice
Merleau-Ponty
Mestrando Edson
Lenine Gomes Prado
PPGF/UFG - CAPES
Orientadora: Carla Milani Damião
O
presente artigo insere-se no bojo de uma pesquisa mais ampla que visa
compreender as relações entre arte e filosofia no pensamento de Maurice
Merleau-Ponty. Essa perspectiva, como tentaremos mostrar, coloca-nos desde o
início alguns obstáculos pelo fato de que, se por um lado, podemos constatar em
toda a sua filosofia a presença de uma permanente referência às experiências
artísticas, em particular a pintura e a literatura (mas também outras como o
cinema e a música ou a escultura e a arquitetura); por outro lado, essa
referência à arte, ao contrário do que se poderia supor, não aparece no
conjunto de seus escritos tendo uma função meramente ilustrativa.
Diferentemente,
ela tem uma função que pode ser compreendida como argumentativa, na medida em
que constitui-se como parte integrante seja da descrição do mundo percebido,
tal como levada a cabo pelo filósofo em seus primeiros trabalhos, seja da
explicitação ontológica, tal como desenvolvida em suas últimas pesquisas.
É
um fato, também, que ao longo de seu itinerário Merleau-Ponty não chega a
orientar sua investigação para os problemas teóricos particulares da estética.
Uma razão que pode contribuir para a compreensão dessa recusa encontra-se no
fato de que um tal direcionamento resultaria, no limite, numa subordinação da
arte à filosofia, o que em grande medida seria incorrer na adoção do ponto de
vista de sobrevoo, tão criticado por ele.
Ao
que tudo indica, temos, portanto, que em seu modo de conceber as relações da
arte com a filosofia não se trata para Merleau-Ponty de buscar instrumentalizar
os processos ou os resultados das experiências artísticas em função de posições
filosóficas assumidas previamente, assim como não parece ser o caso, também, de
pretender elaborar uma teoria geral da arte considerando a estética como um
campo autônomo. Compreender o sentido mais amplo da alternativa indicada por
Merleau-Ponty é o que buscaremos em nossas análises.
Palavras-chave:
Arte; Estética; Merleau-Ponty
• Alegoria
e outros processos construtivos no tropicalismo
Mestrando
Guilherme de Azevedo Granato
PPGF/UFOP – CAPES
Orientadora: Imaculada Kangussu
O
presente trabalho tem como objetivo investigar os processos construtivos das
obras Tropicalistas a partir de sua relação com as vanguardas europeias do
início do século XX. O ideário vanguardista, no propósito de romper o estatuto
de autonomia da arte dentro da sociedade, impulsionou a transformação dos
processos de constituição das obras, no intuito de alertar o expectador para a
possibilidade de transformação da práxis
vital. Nesse contexto, como apontou Peter Bürger, o conceito de obra de arte
não orgânica, como aquela em que parte e todo não estão em relação direta, é
fundamental.
Essa
caracterização remete a elementos, ainda segundo o mesmo autor, que clarificam
a articulação entre a dimensão crítica e os processos construtivos das obras,
tais como o conceito de “novo” e “acaso”, além do emprego da montagem e da
colagem, da paródia e da ironia e, mais centralmente, o conceito de alegoria,
tal como elaborado por Walter Benjamin.
O
Tropicalismo, seguindo a análise de Celso Favaretto, tem na Alegoria o fundamento
de sua estética. No intuito de propor outro eixo de reflexão para além da
imagem mitificada de Brasil que se impunha na época, o movimento deslocou a
crítica do tema para a própria forma do discurso, introduzindo uma nova
linguagem até então estranha à tradição da música popular brasileira.
Palavras
Chave: Vanguardas; Tropicalismo; Alegoria.
• A
história da filosofia como remix, um
olhar comparatista.
Doutorando Rafael
Mófreita Saldanha
PPGF/UFRJ – CAPES
Orientador: Rafael Haddock-Lobo
Entre
várias leituras possíveis, é possível tomar o século XX (e esse nosso, o XXI,
que nesse sentido continua seguindo o anterior) como o século do remix. Falamos aqui de remix no sentido de que o novo não é
visto mais como criação ex nihilo
(coisa que talvez jamais tenha sido), mas como uma reconfiguração/reordenação/ reorganização
daquilo que já está aí. Vemos esse movimento acontecendo na música desde o jazz
e sua arte do improviso, que em muito é pautada pela releitura de standards (clássicos), até o hip-hop,
que diversas vezes leva a arte da citação a locais inesperados.
Na
literatura vemos isso ocorrer, a título de exemplo, em grupos como o OULIPO,
com Georges Perec construindo seu monumental A vida: modos de usar com uma série de furtos da história da
literatura; ou ainda no belo Exercícios
de estilo, de Raymond Queaneau, que resolve recontar a mesma situação
(simples) de 99 maneiras diferentes. A filosofia, portanto, não poderia, por
sua vez, crer escapar ilesa desse furor do remix
que tem dominado os nossos tempos, de maneira que, inclusive, pode-se falar em
filósofos do remix, tanto teóricos,
como Gabriel Tarde, como praticantes, como Gilles Deleuze e Jacques Derrida.
Nosso
objetivo aqui é pois tentar compreender como essa cultura do remix abre o campo para uma certa
prática de história da filosofia ainda por se concretizar.
Palavras
chaves: Comparativismo; metafilosofia; remix.
SEGUNDA
24 DE NOVEMBRO
18
H – MESA DE PROFESSORES
Moderação do mestrando Diego Reis
•
“Que porra é essa: Poesia?”
Alberto
Pucheu
Letras/UFRJ
•
“Yeaaah: sexo, filosofia e rock and roll”
Charles Feitosa
Filosofia/UNIRIO
TERÇA
25 DE NOVEMBRO
12
H – FILOSOFIA POLÍTICA I
Moderação do doutorando Lúcio Salles
•
Sobre communitas e o político: uma leitura entre Schmitt e Esposito
Doutorando
Deyvison Rodrigues Lima – PPGF/UFRJ
• Comentários
acerca da materialidade da ideologia
em
Ideologia e Aparelhos Ideológicos do
Estado
Doutorando
Gabriel H. Lisboa Ponciano – PPGF/UFRJ
•
Transgressão e tecnologia de si em
Michel Foucault
Doutoranda
Julia Naidin – PPGF/UFRJ
•
O Homo
economicus a partir da leitura de Foucault
Doutorando
José Eduardo Pimentel Filho – PPGF/UFRJ
•
A conspiração de Félix Guattari
Doutorando
Vladimir Moreira Lima Ribeiro – PPGF/UFRJ
•
Sobre communitas e o político: uma leitura entre Schmitt e Esposito
Doutorando
Deyvison Rodrigues Lima
PPGF/UFRJ – CAPES
Orientador: José Maria Arruda
Neste
artigo proponho duas tarefas. Primeira, inserir Carl Schmitt no debate contemporâneo
sobre comunidade; segunda, compreender a noção de comunidade a partir do
político como diferença. Pretendo demonstrar que a noção de comunidade como
ausência de fundamento ou perda é articulada em Schmitt através da noção de
antagonismo.
Para
isso, pretendo pensar no limite da heterodoxia e realizar alguns retornos
publicamente esquecidos a respeito de Carl Schmitt. Proponho três etapas: (I)
exponho as teses de Roberto Esposito (representante privilegiado na crítica à
noção substancialista da comunidade) nas obras Categorie dell’impolitico (1988) e, sobretudo, Communitas (1998) e Immunitas
(2002); (II) analiso dois argumentos através da obra de Schmitt: a virada para
a exceção (argumento do finitismo) no Politische
Theologie (1922) e o deslocamento para a compreensão do antagonismo como
relação originária do político no Der
Begriff des Politischen (1927). Por fim, (III) reivindico que a leitura de
Schmitt acerca do político é paradigmática por conta da rejeição do fundamento
da política no sentido da metafísica tradicional, bem como da compreensão do
termo communitas originariamente como
contra (com-tra) e não como com. Concluo que a ênfase da relação comunitária
não está no munus compartilhado como
Esposito afirma, mas sim no com-tra que se pode sustentar a partir de Schmitt,
isto é, não apenas como relação, mas como antagonismo.
Palavras-chave:
comunidade; relação; antagonismo.
•
Comentários acerca da materialidade da ideologia
em Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado
Mestrando Gabriel
Henrique Lisboa Ponciano
PPGF/UFRJ – CNPq
Orientador: Rafael Haddock-Lobo
O
objetivo deste trabalho é pensar a questão da materialidade da Ideologia na
obra Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado de Louis Althusser. Para que
se possa cumprir tal objetivo, faz-se necessário que compreendamos o movimento
da referida obra de tentar esclarecer como se dá a “reprodução das condições de
produção”, indicada por Marx em sua correspondência com Kugelmann como algo
vital para a manutenção de qualquer formação social.
Seguindo
esse movimento, Althusser, sob a ótica da reprodução das relações de produção,
opera o que ele chama de “uma ampliação da teoria marxista do Estado”.
Compreender essa ampliação é a chave para que possamos vislumbrar a distinção
feita pelo autor entre os Aparelhos de Estado: um que age, predominantemente,
pela violência (Aparelho Repressivo de Estado) e outros que agem,
predominantemente, pela ideologia (Aparelhos Ideológicos de Estado).
Levando
em conta que as ideologias existem por meio dos e nos Aparelhos Ideológicos de
Estado, ao analisarmos a estrutura e funcionamento de tais Aparelhos a questão
da materialidade das ideologias poderá ser colocada. Das ideologias
particulares, seguindo Althusser, problematizaremos a questão da Ideologia em
geral.
Palavras-chave:
Althusser; Ideologia; Aparelhos Ideológicos de Estado.
•
Transgressão e tecnologia
de si em Michel Foucault
Doutoranda Julia
Naidin
PPGF/UFRJ – CAPES
Orientador: Guilherme Castelo Branco
O
presente trabalho busca uma articulação entre dois momentos na obra de Michel
Foucault. Na década de sessenta, Foucault escreve sobre a experiência da
literatura através de escritores como Bataille, Blanchot, Artaud e
Klossowsky...
Nestes
textos vemos um tipo de experiência que o homem pode fazer a partir da relação
que ele estabelece com seus próprios limites, numa experiência de transposição
que ele efetua em si mesmo.
A
ideia de transgressão aparece indicando um espaço além dos limites do ser.
Trata-se de uma experiência na qual o sujeito opta por se colocar em perigo
através da prática de um dilaceramento de si enquanto sujeito estável e
moralmente identificado. Tal ideia não deve ser entendida como uma atitude,
como um comportamento, tampouco como uma ética ou uma moral. A transgressão é
da ordem do acontecimento e ocorre na experiência que o sujeito faz ao violar
seus limites.
Vinte
anos após estas publicações, Foucault volta a falar de limites, de violação, de
ultrapassagem e de transformações que o sujeito é capaz de operar em si mesmo.
O autor nos apresenta, em pesquisas sobre o mundo greco-romano, uma nova
resposta às inquietações de seus textos sobre teoria política: o
“cuidado-de-si”. Trata-se de um complexo conjunto de práticas e exercícios que
afirmam a possibilidade de contestação no lugar em que um sujeito se elabora ao
se desvencilhar de amarras históricas e identitárias.
Palavras-chaves:
Michel Foucault; transgressão; tecnologias de si.
•
O Homo Economicus a partir da leitura de Foucault
Doutorando José
Eduardo Pimentel Filho
PPGF/UFRJ
Orientador:
Guilherme Castelo Branco
O
conceito de homo economicus foi um
conceito que surgiu no pensamento econômico da virada do século XVIII para o
XIX. Numa disputa - que de fato seria mais harmônica do que conflituosa - entre
o liberalismo clássico e o utilitarismo, o homo
economicus foi tradicionalmente definido como o homem do mercado, da troca,
do laissez-faire ̧ laissez-passer. De qualquer modo, tal
conceito servira para dar nova identidade ao homem moderno, cada vez mais
urbano e envolvido nos meios de produção; um "novo homem" que seria
mais economicamente embasado, e que fugiria da concentração Estatal e
financeira proposta pelo Mercantilismo.
Contudo,
apesar da mirada clássica acerca do homem econômico, Michel Foucault, ao longo
de toda sua obra tentou resignificar tal conceito e o contexto no qual ele se
inserira. No As Palavras e as Coisas,
ainda no início dos anos 1960, ele já rompia com a noção clássica que diz ser o
homo economicus o homem da troca, e,
inovadoramente, Foucault descreverá tal sujeito como "aquele que passa,
usa e perde sua vida escapando da iminência da morte" (PC, 2007, p.353).
No fim dos anos 1970 Foucault iria recriar dois novos contextos para
compreender o homo economicus, de um
lado o homem-fábrica da disciplina, do Panóptico, das regulações, e de outro
lado o homem empresa, da normalização, do neoliberalismo, das regulamentações.
Será em torno de tais visadas originais que a presente fala se debruçará.
Palavras-chave:
economia; poder; sujeito.
•
A conspiração de Félix
Guattari
Vladimir Moreira
Lima Ribeiro
UFRJ/PPGF - CAPES
Orientadora: Adriany Mendonça
O
objetivo desta comunicação é o de pensar a “máquina
de escritura” criada por Guattari como a expressão de um pensamento
político que (1) reelabora a relação teoria-prática (2) injeta a política no
plano do cotidiano, (3) apresenta uma ideia nova de cotidiano, que nós chamamos
de cotidiano caosmótico e (4) é sustentada a partir de uma ideia de
conspiração, como uma força capaz de promover nesta máquina de escritura
agenciamentos dos mais variados com as potências políticas minoritárias.
“Inventar
novos modos de gestão da vida cotidiana não é uma utopia”, gritava Guattari no
meio da água fria que foi “Os anos de inverno”. Mas mesmo antes, e também
depois dos anos 80, sozinho, com Jean Oury ou com Gilles Deleuze, este grito se
repetia como um ritornelo ético-político de resistência. E, talvez, e esta é a
hipótese que gostaríamos de experimentar aqui, a “machine d’Écriture” de Guattari acabou por elaborar um novo
espaço-tempo da política: o cotidiano. Inventar novos modos de gestão da vida
cotidiana significa agenciar teoria e prática em uma atitude criadora capaz de
resistir aos vergonhosos estilos de vida produzidos pelo Terror que assombra a
vida cotidiana. Guattari, assim, foi aquele que não só conseguiu diagnosticar a
hipercomplexidade do cotidiano como, principalmente, desejá-la e afirmá-la para
a sua “machine d’Écriture”. Assim,
são essas as questões que nós gostaríamos de desenvolver.
Palavras-chave:
Pensamento; política; cotidiano.
TERÇA
25 DE NOVEMBRO
15
H – FILOSOFIA POLÍTICA II
Moderação da doutoranda Priscila Carvalho
•
Maquiavel: conhecimento e poder
Mestrando
Cleber Andrade – PPGF/UFRJ
• Foucault leitor de Maquiavel: Soberania X Governamentalidade
Mestranda
Carla Musa Latsch Cherem – PPGF/UFRJ
•
Filosofar nos Trópicos: o Brasil e a
cordialidade perdida
Mestrando
Diego Reis – PPGF/UFRJ
•
O pensamento na lacuna entre o passado e
o futuro
Mestranda
Fernanda Cupertino – PPGF/UFRJ
•
Maquiavel: Conhecimento e
Poder
Mestrando Cleber
Andrade
PPGF/UFRJ
Orientadora: Suzana de Castro
Senão
virgem ao menos muito pouco explorado é o campo de estudos concernente à
questão do conhecimento para Nicolau Maquiavel. O simétrico inverso pode ser
dito sobre o tema do poder. Procuraremos, com a seguinte exposição, estabelecer
uma conexão entre estes temas, e aprofundar sua análise.
Assim:
1) proveremos, inicialmente, um panorama histórico a respeito dos significados
do conhecimento no Renascimento de modo a identificar dentre estes o(s) que
afeta(m) diretamente a política; 2) em seguida, destacaremos e lapidaremos as
percepções do próprio Maquiavel sobre a questão do conhecimento dando especial
ênfase ao que no seu pensamento demarca permanências e rupturas com a tradição
ao qual está filiado; 3) do exposto, avançaremos sobre a relação propriamente
dita entre conhecimento e poder tal como concebida e propugnada pelo ilustre
florentino; 4) com isso, esperamos projetar em luzes mais brilhantes a dimensão
propositiva normativa de Maquiavel a qual tem sido sistemática e
recorrentemente negligenciada – ocultada nas densas brumas do pragmatismo que
lhe é atribuído.
Palavras-chaves:
Maquiavel; conhecimento; poder.
•
Foucault leitor de Maquiavel: Soberania X Governamentalidade
Mestranda Carla Musa Latsch Cherem
PPGF/UFRJ
Orientador:
Guilherme Castelo Branco
Nossos
objetivos nesta comunicação são analisar o pensamento político do filósofo
francês Michel Foucault e demonstrar que este converge para uma concepção de
política como governamentalidade. Outrossim, compreender em que sentido
Foucault concebe a governamentalidade como desenvolvimento mais atual do
governo político, entendimento oposto ao que Maquiavel dava à soberania, e como
isso se constitui em antimaquiavelismo.
Perceber
o poder como algo que não existe como substância, nem localizado em instituições
é um fator importante para compreendermos o olhar foucaultiano sobre o poder.
Pela tradição filosófica temos a tendência de identificar o poder aqui e ali,
como o poder dos governantes, ou dizer que a burguesia tem poder e o
proletariado não (LEBRUN, 2004, passim). Em primeiro lugar é relevante dizer
que Foucault não está negando que, em alguns momentos e em certo sentido,
também se possa pensar o poder como aquilo que alguns indivíduos possam,
individualmente ou através de instituições, exercer no sentido do controle ou
de alguma dominação sobre outros. O que Foucault parece deixar emergir em seus
estudos é, no entanto, o entendimento de uma forma de racionalidade política
que envolve, em sua lógica interna, alguma coisa que, mesmo não estando em
nenhum lugar específico está em todos, pois transita pelos espaços. Essa noção
multiforme de “espaços” envolve muito mais do que instituições, ou lugares,
abrange as pessoas viventes e os discursos que são produzidos.
Palavras-chave:
Soberania; Biopoder; Governamentalidade.
•
Filosofar nos Trópicos: o
Brasil e a Cordialidade Perdida
Mestrando Diego
Reis
PPGF/UFRJ – CAPES
Orientador: Guilherme Castelo Branco
Desde
as Jornadas de Junho de 2013, no Brasil, não cessou de proliferar, em campos
expandidos do pensamento, uma série de indagações por parte das instituições
sociais, educacionais e políticas, que, desconcertadas, tenta(va)m entender o
que se passou.
Uma
percepção, no entanto, parece atravessar as diversas análises: a representação
de um país pacífico, materializada na imagem-guia do homem cordial, tem dado
lugar a outras figuras, que denunciam a violência estruturante da cultura
brasileira e a notória intolerância aos Outros, no subterrâneo dos discursos de
festejo da miscigenação e da diferença, onde circulam os racismos e
preconceitos de todas as espécies.
Esta
comunicação versará sobre possíveis articulações entre o pensamento
antropológico brasileiro e a filosofia crítica do presente, nos moldes do
diagnóstico de nosso tempo histórico, tal como proposto por Michel Foucault, em
sua leitura da Aufklärung, de Kant. Deste modo, nosso intento não é fornecer
uma grade geral de inteligibilidade dos fenômenos sociais e de suas
contradições. Antes disso, esta comunicação traz algumas questões acerca dos
conflitos, da violência e do modo pelo qual, neles, a racionalidade política
contemporânea, os autoritarismos e os conservadorismos não deixaram de ser
contestados por vias diversas, em lutas frontais, transversais e oblíquas que
reivindicam o direito à cidade, ao corpo, e à liberdade prometidos [e
celebrados] pelas democracias neoliberais.
Palavras-chave:
Filosofia Política; Formação Social Brasileira; Violência.
•
O pensamento na lacuna
entre passado e futuro
Mestranda Fernanda
Cupertino
PPGF/UFRJ – CAPES
Orientadora: Carla Francalanci
Os
eventos que constituem as experiências e temores que operam como pano de fundo
das análises de Hannah Arendt na obra Entre
o passado e o futuro se identificam com o caráter sem precedentes do
fenômeno totalitário ocorrido na primeira metade do século XX. A evidenciação
da insuficiência de categorias políticas e padrões morais que dessem conta de
explicar e questionar tais acontecimentos ou que corroborassem o certo e o
errado, o possível e o impossível, são alguns dos motores da reflexão
arendtiana.
O
esgarçamento da linha hermenêutica em questão, do fio condutor entre o passado
e o futuro, se aprofundou a medida em que a época moderna avançou trazendo
consigo a perda de um território comum que dá sentido àquilo que permeia o
homem em sua existência. Por fim, a ruptura do fio condutor da tradição ocorre
devido aos eventos políticos experimentados por meio do totalitarismo. Assim, a
lacuna entre o passado e o futuro deixa de ser adstrito aos poucos que fazem do
pensar sua ocupação primordial, tornando-se uma perplexidade e uma realidade
tangível a todos, isto é, um fato de relevância política.
Tendo
isso em mente, a presente comunicação pretende analisar sob a luz das reflexões
de Hannah Arendt, o movimento de dissolução da tradição tendo em vista suas
implicações políticas, negativas e positivas, bem como o lugar próprio do
pensamento político como a possibilidade de prevenção da repetição dos horrores
testemunhados em momentos sombrios da existência humana.
Palavras-chave:
Hannah Arendt; tradição; pensamento.
TERÇA,
25 DE NOVEMBRO
18
H – MESA DE PROFESSORES
Moderação do Professor Cleber Andrade – Ciências
Políticas/UFF
•
“Perspectivas do Anarquismo hoje”
Professora
Camila Jourdan
Coordenadora
do PPGFil/UERJ
QUARTA
26 DE NOVEMBRO
12
H – FILOSOFIA ANTIGA I
Moderação do doutorando Lúcio Salles
• O logos segundo a natureza e a natureza
segundo o logos:
algumas
diferenças entre Platão e Heráclito
Doutoranda
Carolina Moreira Torres – PPGF/UFRJ
•
Do trágico veio o homem: Empédocles
entre Orfeu, Zagreu e Prometeu
Mestranda
Eduarda Pianete Moreira – PPGF/UFRJ
•
Democracia, liberdade e poesia: a grande
revolução popular de Atenas
Doutorando
Emerson Facão – PUC-Rio
•
As performances do silêncio na Filosofia
Moral de Plutarco
Mestrando Vanderley N. Freitas – UFMG
•
O logos
segundo a natureza e a natureza segundo o logos:
algumas diferenças entre Platão e
Heráclito
Doutoranda
Carolina Moreira Torres
PPGF/UFRJ – CAPES
Orientador: Fernando Santoro
Neste
trabalho nos propomos a pensar sobre a transformação da noção de lógos e de sua relação com a physis através dos fragmentos 1 e 50 de
Heráclito e do diálogo O Sofista de
Platão. Nosso objetivo é comparar o lógos
katà physin de Heráclito com o lógos
platônico no diálogo O Sofista. Para
Heráclito, o lógos nos diz que tudo é
um, e tal unidade é de acordo com o modo próprio de ser da physis. Em seu discurso, essa unidade se manifesta a partir das
homonímias. Elas são capazes tanto de mostrar como de ocultar o sentido do que
se diz, privilegiando a unidade que permeia e aproxima todas as coisas, ao
invés da precisão que as separa.
Por
outro lado, Platão, no Sofista, busca
compreender como é possível que nos enganemos em nossos juízos, uma vez que
Parmênides havia dito que não é possível dizer o não-ser, e disso derivou-se a
conclusão sofística da impossibilidade de dizer o falso. Nesse diálogo Platão
afirma que a physis, e tudo o que
dela brota, vem a ser de acordo com o lógos
de uma divindade criadora (Platão, O
Sofista, 263b). Assim, ele identifica, dentre as produções divinas na
natureza, algumas imagens, como sonhos, reflexos e sombras, que tornam possível
que nossos sentidos se enganem. Neste trabalho, buscaremos investigar as
diferenças e semelhanças entre essas as duas maneiras de compreender a relação
entre lógos e physis.
Palavras-chave:
Heráclito; Platão; logos.
•
Do trágico veio o homem:
Empédocles entre Orfeu, Zagreu e
Prometeu
Mestranda Eduarda
Pianete Moreira
PPGF/UFRJ -
Orientador: Fernando Santoro
"Ele
é o filósofo trágico, o contemporâneo de Ésquilo": é com essa frase que
Nietzsche se refere a Empédocles no seu Nascimento. E é essa frase, entre
outros estranhamentos, que provoca as linhas a seguir. Já de início, parece
justo dizer que o presente trabalho não pretende descobrir ou revelar; estas
linhas se dedicam apenas à expressão de algumas suposições em relação à
Cosmologia de Empédocles. A mais importante delas, a que foi provocada pelas já
citadas palavras do filósofo alemão, é que dita Cosmologia, ou seja, a
narrativa do agrigentino sobre como veio a ser o mundo tal como nós o
conhecemos e também o homem, pode ser considerada um relato trágico-poético.
Porém,
a suposição da tragicidade empedoclea não se limita ao conteúdo de seus versos,
mas também - e talvez, principalmente - a dramaticidade escancarada por sua
figura. Não por ser esta uma dramaticidade optativa ou aleatória, mas
exatamente pelo contrário: por acreditarmos que essa forma de expressão é já a
encarnação daquilo que se diz, ou seja, que a forma já anuncia o conteúdo. E
que isso, longe de ser uma escolha aleatória ou até inteligente, é sim a única
maneira de dizer o que deve ser dito, porque forma e conteúdo, no final das
contas, devem fundir-se em uma coisa só. Empédocles é a encarnação da sua
escrita, de seu pensamento e, consequentemente, do mundo que com ele vem a ser.
Empédocles
é, então, a encarnação do trágico, e, assim sendo, fala através, desde e pelo
trágico. Enfim, na tentativa de elucidar essa hipótese, tratamos de realizar
articulações entre a narrativa empedoclea e alguns relatos trágicos já
enunciados no título desta comunicação: as histórias de Orfeu, Prometeu e
Zagreu, mostrando como o ponto de vista de Empédocles parece estar bastante
atravessado pelo ideal trágico do qual é herdeiro e, eventualmente,
contemporâneo.
Palavras-chave:
Empédocles; tragédia; cosmologia.
•
Democracia, liberdade e poesia:
a grande revolução popular de Atenas.
Doutorando Emerson
Facão
PPGF/PUC-Rio –
CAPES
Orientador: Danilo Marcondes
Antes
da intervenção do poeta Sólon, a aristocracia ateniense gozava de vários
privilégios que incomodava profundamente o povo, pois eles construíram uma
forma eficiente de serem protegidos e sustentados pela lei do Estado sem
precisar labutar nas lavouras de sol a sol como a maioria dos seus
conterrâneos. E para agravar essa crise social, o filósofo Aristóteles relata
no seu livro, conhecido na antiguidade como a “Constituição dos Atenienses”,
que muitos cidadãos que trabalhavam no campo estavam se tornado escravos dos
nobres por não poderem pagar as suas dívidas.
Essa
situação insustentável de desigualdade social e exploração acabou gerando uma
terrível guerra civil que eclodiu com a tentativa de um golpe de Estado
orquestrado pelo campeão olímpico Cílon, e o seu sogro, conhecido pela alcunha
de Teágenes, o tirano de Mégara. Simultaneamente a esses fatos, a Grécia estava
atravessando por diversas mudanças sociais e políticas em suas principais
cidades. Essa crise teria se intensificado, sobretudo, entre os séculos VII e
VI a.C em um momento que os trabalhadores mais humildes decidem combater a exploração
efetuada pelos nobres. Esse período turbulento marcou de modo decisivo a
história da Grécia.
A
nossa comunicação visa apresentar alguns desses fatores que foram importantes
para que cidade de Atenas pudesse estabelecer as bases para a instauração do
regime democrático através da força poética de Sólon.
Palavras-chave:
Escravidão; Democracia; Poesia.
•
As Performances do Silêncio na
Filosofia Moral de Plutarco de
Queroneia
Mestrando
Vanderley N. Freitas
PPGF/UFMG – CAPES
Orientadora: Miriam Campolina Peixoto
Diniz
Plutarco
de Queroneia (45-125) é autor de uma vasta obra, cujos textos conservados foram
divididos em dois grandes grupos, as célebres Vidas Paralelas e as Moralia.
Para Plutarco, a filosofia é, antes de tudo, uma arte de viver. A Moralia se apresenta como um enkeiridion destinado a indicar o
caminho para o bem viver, e parte do princípio que a felicidade pode ser
alcançada se o homem for capaz de exercer, com o concurso da razão, uma gestão
dos impulsos e das afecções. O mesmo propósito se entrevê no projeto das Vidas.
No quadro da Moralia, em pelo menos três tratados o tema do silêncio mereceu
especial atenção: Como Ouvir, Sobre a Tagarelice e Banquete dos Sete Sábios. O vemos
referir-se a ele no quadro de sua reflexão sobre a educação, sobre as relações
político-sociais, assim como no campo da retórica e naquele do exercício da
virtude. Semelhante atenção parece ter recebido também nas Vidas, e em particular no contexto da Vida de Licurgo, rei de Esparta. Ao considerar o laconismo dos
espartanos, Plutarco louva o seu senso de silêncio, comportamento que já havia
sido objeto de atenção em Platão e em Aristóteles.
Observa-se
em Plutarco uma censura à tagarelice e um louvor do silêncio oportuno. Em que
medida todas essas disposições se encontram implicadas, enquanto objeto da
especulação filosófica, como horizonte do bem viver? Em outras palavras, em que
sentido esta espécie de “economia da linguagem” constitui uma categoria da
reflexão ética?
Palavras-chave:
silêncio; ética; Plutarco.
QUARTA,
26 DE NOVEMBRO
15
H – FILOSOFIA ANTIGA II
Moderação da doutoranda Carolina Moreira Torres
•
A akrasia
foi refutada no Protágoras?
Doutorando
Matheus Dias Bastos – PUC-Rio
•
Por que Platão escreveu diálogos?
Mestrando
Deivid Junio Moraes – UFOP
•
A fisiologia do prazer no Górgias de Platão
Mestrando
João Gabriel da S. Conque Santos – UFMG
•
Os elementos cômicos do diálogo
platônico
Doutorando
Nelson Aguiar Menezes Neto – PPGF/UFRJ
•
A imagem do Sol e as
Ideias platônicas (República VI, 508b-509b)
Doutorando André
Luiz Braga da Silva – PPGF/USP
•
A akrasía foi refutada no Protágoras?
Doutorando Matheus
Dias Bastos
PPGF/PUC-Rio –
CNPq
Orientador: Danilo Marcondes
Minha
comunicação se propõe a determinar a consistência dos argumentos hedonistas
oferecidos por Sócrates na passagem 351b – 358a no intuito de refutar a
explicação tradicional da opinião dominante (oi polloi) para o fenômeno denominado de akrasía, isto é, a ocasião em que um agente opta por uma
alternativa que ele considera ser pior, mesmo que possa escolher uma
alternativa melhor, por ser submetido (hettoménous)
pelos impulsos (352d-e). De fato, a existência do fenômeno da acrasia constitui
a maior objeção às teses centrais de Sócrates: a tese da unidade das virtudes e
da relação existente entre o exercício das virtudes e o conhecimento (352c). Se
o personagem conseguir refutar a explicação tradicional através do hedonismo,
ele poderá sustentar de maneira mais consistente a superioridade do
conhecimento sobre a deliberação humana.
No
entanto, comentadores tradicionais, como Gosling e Taylor e Irwin, alegaram que
Sócrates não conseguiu refutar a acrasia através do hedonismo. De outro lado,
outros comentadores, como George Rudebusch e Martha Nussbaum, demonstram que a
distinção temporal dos prazeres utilizada por esses autores não é condizente
com a teoria hedonista exposta pelos argumentos de Sócrates. Eles mostram, com
efeito, que a distinção quantitativa é a única distinção realmente utilizada
pelo personagem.
Deveremos
determinar, portanto, se a distinção quantitativa dos prazeres realmente pode
assegurar a refutação da acrasia.
Palavras-Chave:
Hedonismo; Acrasia; Protágoras.
•
Porque Platão escreveu
diálogos?
Mestrando Deivid Junio
Moraes
Programa de Pós-Graduação em
Estética e Filosofia da Arte PPGEFA/UFOP – CAPES
Orientadora: Imaculada Kangussu
Para
além das dificuldades que podem ser encontradas quando nos deparamos com os textos
de algum autor, no caso de Platão há algo de peculiar, a saber, o total
distanciamento do filósofo das formas habituais de comunicação filosófica. F.
Schleiermacher, em sua Introdução aos
diálogos de Platão, considera pelo menos duas formas principais nas quais
se move, em grande parte, aquilo que normalmente nomeamos de filosofia: a
sistemática e a fragmentária. Ocorre que, num primeiro contato com Platão,
salta aos olhos a forma dialógica de seus escritos. Parece lícito, portanto,
considerar tal forma como uma intenção cara ao autor grego. Mas, por que Platão
escreveu diálogos? Há alguma relação entre a forma dos diálogos e os objetivos
filosóficos considerados platônicos? A consideração de tal problema pode ser o
primeiro passo para a compreensão do pensamento de Platão enquanto filósofo.
Este
estudo propõe que o diálogo, como forma, seria coerente a um pensamento que se
dá dialogicamente – como, por exemplo, nos alude o protagonista do Sofista acerca do modo apropriado ao
pensamento: um diálogo da psykhé
consigo mesma. E uma vez encaminhado à escritura, sob a forma dialógica, o
pensamento estaria como que reproduzido com maior justeza. Se isto faz sentido,
pode evidenciar o quanto Platão talvez tenha herdado do método dialético de
Sócrates e, ao mesmo tempo, pretendido fazer do diálogo uma forma artística que
concorresse com as outras formas de mímesis
disponíveis em seu tempo.
Palavras-chave:
Platão; forma dialógica; representação do pensamento.
•
A fisiologia do prazer no
Górgias de Platão
Mestrando João
Gabriel da Silva Conque Santos
PPGF/UFMG
Orientadora: Miriam Campolina Diniz
Peixoto
A
comunicação será baseada nos resultados parciais de uma pesquisa que busca
investigar uma possível influência da medicina hipocrática na concepção de prazer
apresentada no Górgias de Platão.
Dado
que a concepção de prazer nesse diálogo se apresenta a partir de uma descrição
fisiológica do mesmo, a determinação da teoria acerca do funcionamento do corpo
humano que serviu de modelo para tal descrição desponta como um importante
recurso para a compreensão do aspecto semântico e valorativo do prazer presente
no Górgias.
Evidências
textuais nos permitem afirmar que a concepção platônica de prazer como um
processo de preenchimento de uma deficiência dolorosa, que de acordo com a
cronologia mais comumente aceita é exposta pela primeira vez no Corpus Platonicum no Górgias, pode ter sido influenciada por
teorias fisiológicas encontradas em textos atribuídos à escola hipocrática.
Verificar
comparativamente os vocabulários fisiológicos presentes nos textos médicos e no
diálogo Górgias pode complementar de
maneira significativa o esclarecimento dos referidos aspectos do prazer que
possuem importantes funções na ética platônica desenvolvida nos diálogos
posteriores.
Palavras-chave:
Platão; prazer; medicina hipocrática.
• Os elementos cômicos do diálogo
platônico
Doutorando Nelson de
Aguiar Menezes Neto
PPGF/UFRJ – CAPES
Orientador: Admar Costa
A
presente investigação se insere num projeto mais amplo de pesquisa, que visa analisar
a importância filosófica do processo de composição dos diálogos platônicos,
tendo como horizonte a questão da forma literária.
Partindo
da ideia de que o diálogo platônico constitui um gênero híbrido, que incorpora
outros gêneros literários e os articula num rico diálogo, este trabalho busca
estabelecer uma relação entre a comédia e o drama filosófico, tal qual
delineado por Platão. A pergunta sobre o “ancestral literário” do diálogo
platônico não pode ser respondida sem uma remissão à comédia. Com efeito,
dentre os modelos literários dos quais Platão se serviu para compor um novo
gênero, a comédia assume lugar de destaque.
Como
verificamos no testemunho de Diógenes Laércius, Sócrates, personagem central
nas obras platônicas, é descrito com rico potencial cômico, fundado numa vida
intelectual burlesca. Havia, na sua aparência e no seu estilo de vida, algo de
fundamentalmente cômico.
Buscaremos,
portanto, recuperar uma relação entre os escritos platônicos e os mimos de
Sófron e de Xenarco, a comédia de Epicarmo, bem como a comédia ática, buscando
demonstrar a possibilidade e a importância da articulação entre o estilo
literário platônico e o modelo cômico de composição dramática.
Palavras-chaves: Platão, comédia, diálogo
• A imagem do Sol e as
Ideias platônicas (República VI, 508b-509b)
Doutorando André Luiz Braga da
Silva
PPGF/USP
Orientador: Roberto Bolzani Filho
No Livro VI da República de Platão, vemos o personagem Sócrates expor um de seus mais célebres engenhos, o símile ou imagem do Sol (508a4-509c4). Quando se puser a explicar o sentido da estrutura analógica que a imagem apresenta, o personagem apontará, separadamente, duas relações que a Forma do Bem mantém com as outras Formas: causalidade epistêmica (508c3-509a9) e causalidade ontológica (509a9-509b10). Esta última
será enunciada nos seguintes termos:
[...] Dize que, quanto às coisas vistas, o Sol não apenas fornece o seu poder de ser visto, mas também a sua geração, seu crescimento e sua nutrição [...]. E, portanto, quanto às coisas conhecidas, [...] dize que não apenas o seu ser-conhecido está presente devido ao Bem, mas também que tanto o seu eînai quanto sua ousía lhes é atribuído por ele [...]. (509b2-8)
O sentido de eînai e ousía
nesse trecho é causa de uma das maiores controvérsias na literatura
secundária desse diálogo (FERGUSON, 1921; MURPHY, 1932;
ROSS, 1951; RAVEN, 1953; SANTAS, 1999; BALTES, 1999; FRONTEROTTA, 2001; REALE,
2002; FERRARI, 2003; VEGETTI, 2003; SZLEZÁK, 2003; GUTIERREZ, 2009 e 2010). A presente comunicação
visa então a entrar nesse debate, buscando apontar, no próprio texto, pistas
que possam indicar uma direção interpretativa...: em que sentido, afinal, eînai e ousía foram
entendidos pelos próprios debatedores, Sócrates e Glauco?
Palavras
chave: Platão, eînai, ousia.
QUARTA,
26 DE NOVEMBRO
18
H – MESA DE PROFESSORES
Moderação do doutorando Nelson Neto
•
“Eros e beleza na filosofia platônica”
Admar Costa
Filosofia/UFRRJ
•
“Ascese e interpretação em Orígenes: o cântico dos cânticos”
Marcus Reis
Filosofia/UFF
QUINTA,
27 DE NOVEMBRO DE 2014
10
H – HEIDEGGER
Moderação da doutoranda Carolina Moreira Torres
• A poética de
Rainer Maria Rilke
interpretada
a partir da ocular de Martin Heidegger
Doutorando
Leandro Assis Santos – UERJ
• Discurso como
fundamento da ontologia:
uma
análise da obra O Sofista de Martin
Heidegger
Mestrando
Lucas Macedo Salgado G de Carvalho – UERJ
•
O mais próprio e o que vem ao caso – a
questão existencial de Ser e Tempo
traçada a partir do âmbito imediato da situação hermenêutica
Doutorando
Fábio François Fonseca–PPGLM/UFRJ
•
A poética de Rainer Maria Rilke
interpretada a partir da ocular de
Martin Heidegger
Doutorando Leandro
Assis Santos
PPGF/UERJ – CAPES
Orientadora: Izabela Aquino Bocayuva
A
presente proposta de trabalho visa delimitar uma importante questão para o
pensamento tardio de Martin Heidegger (1889-1976) meditada a partir da poética
de Rainer Maria Rilke (1875-1926).
Nessa
fase de sua reflexão, o filósofo alemão apoiou-se consideravelmente no
pensamento de Rilke a fim de interpretar um problema singular à época histórica
atual, qual seja, a indigência.
Em
linhas gerais, o estudo procura entender como a técnica científica afasta a
indigência das preocupações do homem moderno, de modo que este dela se esqueça,
fato que se torna vetor fundamental para o esquecimento da própria dimensão
finita do homem.
Com
o intuito de marcar a presença dessa temática já na Poesia (Dichtung) de Rilke, Heidegger em Para quê poetas?, de 1946, afirma que a
indigência perfaz um modo muito característico de o homem ser. Indigência é a
falta de permanência e demora do homem junto às coisas, caracterizando a perda
de enraizamento e desabrigo absoluto que se nota pela crescente dispersão no
interior do mundo. Desamparado, o homem já não habita mais, não se dispondo em
modos de ser em que seja acossado por algum tipo de enraizamento no mundo.
Isso
faz com que o mundo se torne absolutamente nivelado e obscuro, como que
enevoado por uma densa “noite”. Nessa noite negra, a fuga dos deuses, a
destruição da terra, a massificação do homem e a primazia da mediocridade se
tornam o grande eco da época indigente; é a “meia noite do mundo”. A época da
técnica é, assim, o momento do “tempo indigente”, que tende a se tornar cada
vez mais indigente.
Palavras-chave:
Técnica; indigência; poesia.
•
Discurso como fundamento da ontologia:
uma análise da obra O Sofista de
Martin Heidegger
Mestrando Lucas
Macedo Salgado Gomes de Carvalho
PPGF/UERJ
Orientador: Marco Antônio dos Santos
Casanova
Este
trabalho busca apresentar a preleção O
Sofista de Martin Heidegger sob a perspectiva do projeto filosófico
heideggeriano que se estende até a viragem (Kehre),
com o objetivo de mostrar que a leitura feita pelo filósofo do diálogo platônico
sob o fio condutor do discurso (logos)
não somente corrobora, mas torna mais clara suas investigações ontológicas
desenvolvidas por meio de uma hermenêutica fenomenológica, isto é, sua
tentativa de pensar a compreensão de ser (Seinverständnis)
como condição de possibilidade para se colocar de modo expresso a pergunta pelo
sentido de ser em geral.
A
apresentação se concentrará na determinação do discurso nos momentos
constitutivos de sua estrutura, conforme exposto na referida preleção,
evidenciando-o como determinação de ser do ser-aí (Dasein), não no sentido usual e desgastado de ser vivo que possui
linguagem (zoon logon echon), mas no
do modo de ser fundamental do desencobrir discursivo interpelador que torna
presente o ente em seu caráter presente. Posteriormente será feita uma breve
comparação entre discurso (logos) e a
teoria do discurso apresentada em Ser e
Tempo, trabalhando o posicionamento defendido na obra capital de Heidegger
da igual originariedade de ser, verdade e compreender.
Palavras-chave:
Discurso; Compreensão; Ser.
•
O mais próprio e o que vem ao caso –
A questão
existencial de Ser e Tempo
traçada a partir do âmbito imediato
da situação hermenêutica
Doutorando Fábio
François M. da Fonseca
PPGLM/UFRJ -
Orientador: Pedro da Costa Rego
Tentarei
explicar a bivalência ontológica entre próprio (eigentlich) e impróprio (uneigentlich)
que Heidegger presume ser o parâmetro de verdade do ser-aí e de que reivindica
a irredutibilidade a qualquer tipo de correspondência predicativa ao ente
subsistente (Vorhanden).
Heidegger
não pode presumir sem mais que a Temporalidade (Zeitlichkeit) é o horizonte de sentido deste binômio ao
introduzi-lo no §9 de Ser e Tempo, pois isto é o que está por se demonstrar. É
o existencial do caráter de ser a cada vez meu (Jemeinigkeit) que será sugerido como critério preliminar para se
distinguir entre possibilidades existenciais próprias ou impróprias, mas mesmo
esta ideia carece de alguma elucidação.
Proponho
pensar de início a bivalência semântica entre próprio e impróprio como aquilo
que é pertinente e digno de expressão na situação de proferimento. Com isso
questionamos critérios semânticos que admitem disputa e revisão nos termos que
Heidegger pretende, na medida em que são previamente configurados a cada vez
pelas normalizações da comunidade e eventualmente em prejuízo da especificidade
da situação e da singularidade dos envolvidos.
Além
disso é possível explicar a Temporalidade como critério revisor segundo o apelo
que uma narrativa em seu proferimento ou performance exerce sobre os falantes
como expressão, e não asserção, de suas possibilidades existenciais mais
próprias, um apelo imanente à ocasião e que não precisa subsistir junto à
realidade das coisas.
Palavras-chave:
Heidegger; Situação Hermenêutica; Verdade Existencial.
QUINTA,
27 DE NOVEMBRO DE 2014
12
H – DERRIDA
Moderação do Professor Rafael Haddock-Lobo – PPGF/UFRJ
•
Vestígios da antiga sofística em Jacques
Derrida
Doutorando
Lúcio Lauro B. M. Salles – PPGF/UFRJ
•
Derrida: notas sobre literatura e
desconstrução
Doutorando
José Olímpio dos S. Neto – PPGF/UFRJ
•
A questão do sujeito na perspectiva da desconstrução
derridiana
Doutoranda
Denise Dardeau – PPGF/UFRJ
• Sobre o
problema da reconciliação em filosofia:
uma
leitura através da desconstrução
Doutorando
Felipe Castelo Branco – PUC-Rio
•
Vestígios da Antiga
Sofística em Jacques Derrida
Doutorando Lucio
Lauro Barrozo Massafferri Salles
PPGF/UFRJ
Orientador: Fernando José de Santoro
Moreira
Compartilharei
aspectos da filosofia de Jacques Derrida, que creio ser na verdade estilo e
escrita, em que se pode reconhecer nuanças de um savoir faire que foi atribuído, por toda uma tradição filosófica, à
antiga sofística.
Buscarei
mostrar onde Derrida parece retomar, e até mesmo dissimular, um manejo da
linguagem que é característico da primeira sofística, para, quem sabe (?),
constituir o seu processo gramatológico de desmontagem de determinados dogmas
filosóficos que se enraizaram por uma tradição metafísica
platônico-aristotélica.
Isso
implica também propor e dizer que é possível que não só a sofística, que se
constituiu como uma espécie de “duplo excluído” da filosofia, mas também o
ceticismo, quando este deriva de algumas especulações lingüísticas gorgianas,
podem ter exercido influências sobre as perspectivas de Jacques Derrida.
São
assim duas, as linhas em torno das quais irei compartir a leitura acerca deste
semblante de Derrida. A primeira delas se refere a questões acerca da imagem do
feminino, através da qual Derrida segue rastros deixados por Nietzsche,
dialogando com a psicanálise. A segunda linha de articulação, diz respeito a
aspectos da primeira sofística, que será representada aqui por ideias de
Górgias, que me parecem ser íntimas de Derrida. Refiro-me, em especial, às
especulações de Górgias acerca da potência e do alcance das linguagens, oral,
escrita, imagética, as quais Górgias considerava serem estas como phármaka [drogas] para as mentes, uma
temática que foi explorada por Derrida, no texto que nos é conhecido como A farmácia de Platão.
Palavras-Chave:
Sofística; Filosofia; Linguagem.
•
Derrida: Notas sobre
Literatura e Desconstrução
Doutorando José
Olímpio dos Santos Neto
PPGF/UFRJ
Orientador: Filipe Ceppas de Carvalho
e Faria
O
presente trabalho busca apresentar a importância e o interesse de Derrida pela
Literatura, apresentando suas características, e relacionando-a com a
Desconstrução, e por fim, para ilustrar melhor esta relação, apresentaremos
exemplos da Desconstrução de cinco temas através de textos literários: o perdão
(Mercador de Veneza, de Shakespeare), o dom (A Moeda Falsa, de Baudelaire), a
psicanálise (A Carta Roubada, de Edgar Allan Poe), a différance (Mímico, de Mallarmé), e os espectros (Hamlet, de
Shakespeare).
Derrida
tem relação tão estreita com a Literatura que seu primeiro projeto de tese era
sobre um tema literário. Contudo, com o passar do tempo, seu desejo pela
literatura e pela escrita literária foi impedido, adiado, diferido, mas de
certa forma acabou sendo satisfeito, por vias indiretas. De qualquer forma,
Derrida, mesmo reconhecendo a importância da literatura para sua formação
filosófica, se sente como um filósofo e não como um literato. E também é
importante ressaltar que Derrida nunca tentou confundir literatura e filosofia
ou reduzir uma a outra, como tem sido frequentemente acusado. E, entre uma e
outra, o desconstrutora identifica diferenças de espaço, de história, de
lógica, de retórica, de protocolos e de argumentação.
Palavras-chave:
Derrida; Literatura; Desconstrução.
•
A questão do sujeito na
perspectiva da Desconstrução derridiana
Doutoranda Denise
Dardeau
PPGF/UFRJ – CNPq
Orientador: Rafael Haddock-Lobo
Ao
passo que as modernas filosofias do sujeito e da consciência apostam na dedução
do mundo a partir de uma subjetividade absoluta, as contemporâneas filosofias
da existência, sobretudo após a empreitada heideggeriana, tomam o mundo e a
existência como constituindo uma unidade imediata.
A
Desconstrução se insere no contexto do pensamento pós-moderno, o qual, a
despeito da sua vaga e problematizável denominação, pretende abarcar em um
mesmo arcabouço intelectual pensadores críticos à metafísica da subjetividade e
ao seu fundamento humanista. É nesse contexto que a problemática do sujeito se
reapresenta, agora, sob a preocupação com a anunciação do seu fim próximo e com
as consequências ético-políticas de se estar em um mundo onde o sujeito foi
“liquidado”.
É,
precisamente, sob este ponto que o presente trabalho pretende debruçar-se. Na
interpretação derridiana, o sujeito só se dá na linguagem, não pode, portanto,
ser entendido de modo independente e anterior ao sistema conceitual e
linguístico a que pertence, como parece sugerir a concepção clássica de
sujeito, ao tomá-lo como um significado transcendental. A problemática que se
apresenta a partir de então, e que procuraremos abordar em nosso trabalho, diz
respeito, por um lado, ao questionamento da metafísica da subjetividade que
toma o sujeito como o centro na experiência do pensamento e, por outro lado, o
redimensionamento do sujeito sob a ótica desconstrucionista e o seu impacto no
pensamento ético-político.
Palavras-chaves:
Sujeito; Desconstrução; Jacques Derrida.
•
Sobre o problema da reconciliação em
filosofia:
uma leitura através da desconstrução.
Doutorando Felipe
Castelo Branco
PPGF/PUC-Rio –
CAPES
Orientador: Paulo César Duque-Estrada
O
tema da reconciliação é um antigo tema filosófico que remete à questão da
homologia entre os gregos. A temática da reconciliação no campo filosófico
atinge, no entanto, sua dimensão mais radical na dialética hegeliana. Hegel, em
um esforço presente também entre outros pós-kantianos, visa - em nome do
Espírito - fundamentar uma possível reconciliação entre as polaridades
inauguradas pela modernidade (eu x coisa, sensibilidade x entendimento, razão x
fé, etc.).
Neste
trabalho, trata-se de tentar mostrar o quanto a proposta da desconstrução
inaugurada por Jacques Derrida se constitui como um alerta, no seio da
filosofia, contra o logocentrismo imiscuído às propostas “reconciliadoras” as
mais variadas possíveis (seja na forma de homo-logos, do Espírito ou da
comunicação). Talvez uma das mais importantes e atuais propostas filosóficas
onde podemos identificar questões que concernem diretamente ao problema da
reconciliação, seja na chamada "ética da discussão" de Jürgen
Habermas. Contudo, é preciso mostrar, via desconstrução, de que maneira a
proposta normativa de uma ética sustentada na comunicação e que visa
estabelecer uma reconciliação entre lugares de fala, reproduz inevitavelmente a
estrutura metafísica do recalcamento de algo que ameaça esse projeto.
Trata-se,
portanto, de colocar frente a frente a leitura desconstrutiva e a proposta da
ética habermasiana. No horizonte, interessa ter em mente que filosofar após
Hegel depende do efeito de certo “fechamento” da história da filosofia que
reinaugura a reconciliação como problema. Não será sem efeitos a requisição
habermasiana da herança da modernidade européia. Antes de pensar a modernidade
"enquanto tal", trata-se de pensar, com Derrida, o que é uma herança.
O que significa herdar?
Palavras-chave:
Reconciliação; Ética da discussão; Desconstrução.
QUINTA,
27 DE NOVEMBRO DE 2014
15
H – NIETZSCHE
Moderação da Professora Adriany Mendonça – PPGF/UFRJ
•
Nietzsche, Deleuze e o conceito de
genealogia
Mestranda
Fernanda dos Santos Sodré – PPGF/UFRJ
• Observações
sobre o problema do egoísmo
a
partir de alguns exemplos da canção popular brasileira
Doutorando
Igor Alves de Melo – PPGF/UFRJ
• A crítica de
Nietzsche à coisa em si kantiana
em
Humano, demasiadamente humano
Mestrando
Newton P. Amusquivar Junior – UNICAMP
• O
conhecimento estético em Schopenhauer e a consideração nietzschiana
acerca
da metáfora em Sobre a verdade e a
mentira no sentido extra-moral
Mestrando
Nathan Menezes Amarante Teixeira – UFF
• Nietzsche e a
liberdade artística em oposição ao
livre-arbítrio
e ao cativo-arbítrio: uma reflexão a partir da tragédia grega
Mestranda
Pamela Cristina de Gois – UFOP
•
A vida como problema: implicações da tarefa crítica de Nietzsche
Mestrando Diogo Diniz da Costa Pereira – PPGF/UFRJ
•
Nietzsche, Deleuze e o conceito
de genealogia
Mestranda Fernanda
dos Santos Sodré
PPGF/UFRJ - CAPES
Orientadora: Adriany Ferreira de
Mendonça
No
terceiro capítulo de Diferença e
Repetição, intitulado “A imagem do pensamento”, Gilles Deleuze desenvolve
uma ideia de que existiria uma imagem do pensamento, de natureza moral ou
dogmática que dominou a história da filosofia. Esta é apresentada através de
seus pressupostos.
Estes
pressupostos implícitos nos dariam um sentimento de que cada um saberia o que
significa pensar, eles assegurariam a forma “...todo mundo sabe”. Estes
pressupostos quando postulam este universalmente reconhecido seriam a forma da
representação ou da recognição em geral. Em contraposição a isto, Deleuze apela
para uma nova imagem do pensamento, singular e cheia de má vontade para com
estes pressupostos.
Consideramos
que a genealogia de Nietzsche estaria alinhada a esta nova imagem do
pensamento. Assim, este trabalho, tem como objetivo, a partir dos estudos de
Gilles Deleuze, realizar uma análise do conceito de genealogia de Nietzsche.
Buscaremos mostrar em que medida Deleuze pensou a genealogia como um mecanismo
da filosofia de Nietzsche que oferece ao mesmo tempo condições de uma crítica e
uma criação, de uma destruição da imagem dogmática do pensamento e da gênese de
uma nova imagem do pensamento. Nosso intuito é discutir até que ponto o gesto
crítico da genealogia é ao mesmo tempo um gesto criador.
Palavras-chaves:
Imagem do pensamento; genealogia; crítica.
• Observações sobre o problema do egoísmo
a partir de alguns exemplos da canção
popular brasileira
Doutorando Igor
Alves de Melo
PPGF/UFRJ – CAPES
Orientadora: Adriany Ferreira de
Mendonça
Meu
objetivo nesta comunicação é pensar o problema do egoísmo tomando como ponto de
partida algumas letras da canção popular brasileira. Com isso, gostaria de
demonstrar como questões de psicologia moral constituem a poética dessas
letras; além disso, gostaria de evidenciar como um mesmo problema pode ser
observado tanto na canção popular quanto na filosofia – nos dois casos teríamos
um mesmo problema filosófico, porém expresso de modo distinto. A partir do
século XVII o egoísmo começa a se definir na filosofia ocidental como critério
de imoralidade. Essa tendência chega a seu auge no século XIX, período em que
se verifica uma tendência moral bastante entusiasmada em defesa dos valores da
compaixão e do altruísmo (principalmente em Schopenhauer). Em contrapartida,
filósofos como Spinoza, Stirner e Nietzsche, cada um a seu modo, superam
definitivamente a oposição moral entre egoísmo e altruísmo.
Para
Nietzsche, esses dois conceitos constituem um “contrassenso psicológico”, e
proposições filosóficas como essa aparecem então como “ingenuidades do erro”. O
ego, diz Nietzsche, não passaria de um “embuste superior”, um “ideal”, algo
muito próximo daquilo que Stirner acusou a respeito de conceitos fantasmáticos
como “homem”, “humanidade” etc. Já o conatus em Spinoza (ou esforço pelo qual
cada um persevera em seu próprio ser) demonstra como os afetos humanos jamais
poderiam se expressar através de uma ação supostamente desinteressada.
Palavras-chave:
egoísmo; altruísmo; moral da compaixão.
•
A crítica de Nietzsche a coisa em si
kantiana
em Humano, demasiado humano.
Mestrando Newton
Pereira Amusquivar Junior
PPGF/UNICAMP –
CAPES
Orientador: Oswaldo Giacoia
O
artigo propõe um estudo sobre a crítica à dualidade entre fenômeno e coisa em
si realizada por Nietzsche em Humano,
demasiado humano, em especial no aforismo 16.
Por
meio da dualidade entre fenômeno e coisa em si, Kant e Schopenhauer
fundamentaram os seus sistemas filosóficos no âmbito epistemológico e ético.
Através da crítica à dualidade entre coisa em si e fenômeno, Nietzsche se
afasta definitivamente da filosofia transcendental que ele ainda estava
vinculado, por meio de Schopenhauer, no Nascimento
da Tragédia.
Pretendo
mostrar que a crítica à dualidade entre fenômeno e coisa em si, realizada por
Nietzsche, tem como fundamento uma investigação antimetafisica e fisiológica da
gênese do pensamento, e pelo qual o filósofo toma uma nova posição diante da
ciência. Também pretendo mostrar como essa crítica se estende para outros
aspectos da filosofia transcendental tal como a liberdade inteligível, a
compaixão schopenhauriana, o imperativo categórico de Kant, o mal radical, a
culpa, etc. Diante dessas mudanças, é possível observar também um afastamento
do filósofo de teses pessimistas, românticas e, ao mesmo tempo, ele inicia suas
investigações sobre a genealogia da moral.
Palavras-chave:
coisa em si; pensamento; fenômeno.
•
O
conhecimento estético em Schopenhauer
e a consideração nietzschiana acerca da metáfora
em
Sobre a verdade e a mentira no sentido
extra moral.
Mestrando Nathan Menezes Amarante Teixeira
PPGF/UFF – CAPES
Orientador:
Vladimir Menezes Vieira
Em seu texto Sobre a verdade e a mentira no sentido extra moral, Nietzsche
apresenta sua crítica à linguagem conceitual, por considerar a formação de
palavras uma atividade essencialmente metafórica oriunda de uma relação
intuitiva com o mundo.
Assim, todo conceito nada mais seria
do que o resultado de um "impulso à formação de metáforas"
fundamental no ser humano e que, devido ao afastamento radical da vivência
intuitiva na qual teve sua origem, acabou por se tornar o lugar em que a
atividade metafórica primeira estagnou-se para dar origem à "palavra verdadeira".
Por sua vez, na Metafísica da Vontade de Schopenhauer, encontramos uma profunda
valorização da arte na medida em que esta seria responsável pela possibilidade
do conhecimento das Ideias, vistas pelo filósofo como os graus de objetivação
mais perfeitos da Vontade. Porém, tal valorização comporta também considerações
acerca do caráter secundário dos conceitos em relação à relação intuitiva
primeira com o mundo, esta última estando intimamente relacionada com a
experiência estética e seu respectivo modo de conhecimento.
Assim, a proposta do presente
trabalho consiste em apresentar concisamente de que modo tais considerações
schopenhauereanas encontram acolhimento no que concerne às questões centrais do
texto nietzschiano supra citado.
Palavras-chave: Schopenhauer;
Nietzsche; Arte.
•
Nietzsche e a liberdade estética
em oposição ao
livre-arbítrio e ao cativo-arbítrio:
uma reflexão a partir da tragédia
grega
Mestranda Pamela
Cristina de Gois
Programa de Pós-Graduação em
Estética e Filosofia da Arte PPGEFA/UFOP – CAPES
Orientador: Olímpio Pimenta
O livre-arbítrio e o cativo-arbítrio
são discussões que sempre permearam as obras nietzschianas. Para o nosso
filósofo, a imputabilidade moral é ferramenta de domesticação, sobretudo,
cristã. Deste modo, atribuir culpa ao sujeito da ação moral é uma maneira de estabelecer
uma moral de rebanho.
Por meio do seu curso, ministrado na
universidade da Basiléia, intitulado Introdução à tragédia de Sófocles (1870),
podemos analisar as primeiras críticas que o filósofo faz à modernidade. Nesse
contexto, os alemães são os principais alvos de sua crítica, tanto no que diz
respeito à sua tragédia, como também a interpretação que estes fazem da
tragédia antiga. Sendo assim, o problema da tragédia moderna é justamente o
fato de atribuir culpa aos seus personagens e de interpretar, sob influência
aristotélica, a tragédia grega com um olhar estético-moral.
Na obra O nascimento da tragédia
(1872), o filósofo dará continuidade ao assunto que sempre fez parte das suas
pesquisas enquanto filólogo, que é a época trágica dos gregos. Fornecendo mais
detalhes sobre os tragediógrafos, Nietzsche novamente retomara a ideia de
liberdade e destino na conjuntura do mundo antigo e moderno, colocando sempre a
questão da culpa como um problema moderno, em contrapartida ausente no mundo
grego. Mesmo a partir de sua filosofia intermediaria, a discussão acerca do
tema permanece: em síntese, tanto o livre-arbítrio como o cativo-arbítrio são
combatidos pelo filósofo. Nietzsche propõe uma nova forma de liberdade, que
pode ser chamada de liberdade estética.
Palavras-chaves:
Nietzsche; Arte; Liberdade.
• A vida como problema:
implicações da tarefa crítica em
Nietzsche
Diogo Diniz da Costa
Pereira
Programa de Pós-Graduação
em Filosofia/UFRJ – CAPES
Orientador: Rafael Haddock-Lobo
O pensamento de Nietzsche se
encontra intimamente articulado a uma conjuntura histórica que ele procurou
pensar sob o signo da “morte de Deus”. É a luz deste acontecimento que se pode
compreender a crise de um projeto de conhecimento que tinha na ideia de
“verdade” a sua meta e legitimação.
Na medida em que a morte de Deus
abala, segundo Nietzsche, o fundamento de todos os valores que sustentavam
objetivamente a nossa cultura, e, entre eles, da própria verdade, o conhecimento
perde assim o critério a partir do qual havia retirado até hoje todas as
referências acerca de si mesmo. É por isso que esta crise irá impor a
necessidade de uma crítica do
conhecimento. Entretanto, tal crítica não poderá dispor, para sua
realização, de uma base objetivamente estabelecida; daí que, neste movimento de
voltar-se sobre si, o conhecimento precise colocar em questão, de alguma forma,
a própria subjetividade daquele que o empreende.
Assim, no horizonte do pensamento
nietzschiano, a crítica não se confundirá com um exercício teórico que se
mantenha nos limites do âmbito epistemológico, mas se apresentará, antes, como
um problema que implica o próprio homem, um questionamento dirigido à sua
existência.
Neste trabalho buscaremos
estabelecer as condições para se compreender o alcance da ideia de “crítica” em
Nietzsche, cuja realização culmina, em nosso entender, no pensamento segundo o qual
a própria vida poderia tornar-se “uma experiência de quem busca conhecer”.
Palavras-chave:
Nietzsche; Conhecimento; Crítica.
QUINTA,
27 DE NOVEMBRO
18
H – MESA DE PROFESSORES
HOMENAGEM
A JACQUES DERRIDA
PELOS
10 ANOS DE SUA MORTE
Moderação do mestrando Diego Reis
•
Professora Ana Maria Skinner
Letras/UFRJ
•
Professora Dirce Solis
Diretora
do IFCH/UERJ
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL
•
Professor Rafael Haddock-Lobo
Vice
coordenador do PPGF e vice diretor do IFCS/UFRJ
SEXTA,
28 DE NOVEMBRO
10
H – VERDADE E CIÊNCIA
Moderação
do doutorando Lúcio Salles
•
Meta-teste da verdade
Mestrando
Pedro Vasconcelos J de Gomlevsky – PPGF/UFRJ
•
Conrad e a razão cínica
Mestrando Valmir Percival Guimarães – PPGEFA/UFOP
(Programa
de Pós Graduação em Estética e Filosofia da Arte)
•
O que é a Ciência afinal?
Mestrando José Caetano Dable Corrêa – PPGHCTE/UFRJ
(Programa
de Pós-Graduação em História das Ciências e Técnicas e Epistemologia)
• Meta-teste
da Verdade
Mestrando Pedro
Vasconcelos Junqueira de Gomlevsky
PPGF/UFRJ – CAPES
Orientador: Jean-Yves Béziau
O
objetivo da comunicação que apresentaremos é realizar uma avaliação de três
conceitos de verdade. Tais serão o conceito de verdade como correspondência,
como coerência e o conceito pragmatista de verdade.
De
acordo com a teoria da correspondência a verdade é uma propriedade de
enunciados que correspondem com a realidade. Já o segundo avaliado será o
conceito de verdade como coerência. Um coerentista considera como verdadeiro
todo enunciado que pertence a um sistema de crenças, desde que seja por elas
implicado, ou as tenha como sua implicação. Ou seja, verdadeiros seriam
enunciados conectados por elos de inferência. Por fim teríamos o conceito
pragmático de verdade. De acordo com este conceito, seria verdadeiro um
enunciado que tem efeitos práticos positivos. Ou seja, um enunciado seria
verdadeiro na medida em que é útil.
Entretanto,
deparamo-nos com um problema. Frequentemente, a filosofia avalia suas
proposições com base no critério da verdade, perguntando acerca das possíveis
respostas a um problema qual seria a resposta verdadeira. Ora, quando o objeto
da questão é a própria verdade, parece que não há um meio tão simples de
avaliar essas concepções tão distintas entre si.
Para
dirimir esta questão propomos a utilização de um método que criamos. O
meta-teste da verdade. Tal método consiste em aplicar aos próprios conceitos de
verdade, seus respectivos critérios. Nossa apresentação terá sido concluída
quando este método for aplicado aos três conceitos propostos.
Palavras-chave:
Teorias da Verdade; Comparação; Meta-teste.
• Conrad
e a razão cínica
Mestrando Valmir
Percival Guimarães
Programa de
Pós-Graduação em Estética e Filosofia da Arte
PPGEFA/UFOP –
PROOP
Orientador: Guiomar de Grammont
O
projeto “Conrad e a razão cínica” tem como objetivo de, a partir de um estudo
da obra Critica da razão cínica
(1983) de Peter Sloterdijk, identificar os elementos apresentados por ela na
novela Coração das trevas (1902), de Joseph Conrad, levando em conta a
diferença entre o cinismo antigo e o cinismo moderno. Este, diferente daquele
dos gregos da primeira escola, opta por incorporar várias facetas e formas de
discurso.
Enquanto
o cinismo grego optava pelo humor descarado e a liberdade de expressão, esse
novo modo se baseia na adaptação do discurso e das ações de acordo com a
situação, o que o torna velado, pois sua racionalização o torna cruel.
Sloterdijk propõe a retomada do cinismo antigo através do abandono e
desistência dessa nova forma de cinismo que não escancara a verdade.
Assim,
Marlow, protagonista da novela de Conrad torna-se o exemplo paradigmático do cínico
moderno, pois ele mente, sobretudo quando diz a verdade. Ele a falsifica para
que o seu elixir salvador mascare a verdadeira intenção de sua empreitada; faz
uso do marketing da falsidade para parecer ser honesto a seus companheiros no
Tâmisa, a sua falsa transparência alimenta a commodity do seu cinismo e faz com que elucide com um discurso
bufão os ideais de liberdade que se invertem e passam a exercer o monopólio da
mentira ocidental: levar a bandeira altruísta, civilizar e educar os bárbaros.
Desse modo, a dinâmica do seu cinismo é ambivalente e enevoa a linha tenue
entre a liberdade e a domesticação.
Palavras-chave:
Conrad; literatura; cinismo.
• O que é a Ciência afinal?
Mestrando José
Caetano Dable Corrêa
Programa de
Pós-Graduação em História das Ciências e Técnicas e Epistemologia
PPGHCTE/UFRJ –
CAPES
Orientadora: Maira
Monteiro Fróes
Coorientador:
José Otávio Pompeu e Silva
No
presente trabalho, é feito um breve relato das vertentes históricas da
epistemologia da ciência, tendo como base o livro “O que é Ciência Afinal” de
Alan F. Chalmres. A compreensão atual da “ciência” se originou na Revolução
Científica dos séculos XVII e XVIII, que dividiu o conhecimento em fragmentos
cada vez menores.
Para
o senso comum, a ciência é um conhecimento verdadeiro porque se justifica em
uma base empírica e é capaz de prever novos fenômenos pela lógica de
causalidades de fenômenos já observados. A visão Indutivista, que tenta
formalizar essa visão de ciência dada pelo senso comum, tem como crítica a
dependência que toda observação tem da teoria que a precede e também por se
basear em uma lógica circular. O Falsicacionismo, que surgiu posteriormente,
considerava uma teoria “verdadeiramente científica” aquela passível de ser
falseável através de testes empíricos.
Popper,
que inaugurou o Positivismo, acreditava que uma teoria refutada empiricamente
seria substituída por uma nova mais completa e eficiente, o que não é observado
ao longo da história da ciência em alguns casos. Thomas Khun e Imre Lakatos, na
tentativa de salvar o Falsificacionismo Popperiano da sua própria refutação,
desenvolveram uma descrição da prática científica onde a teoria original seria
protegida por hipóteses auxiliares, que o autor polariza em Racionalismo e
Relativismo.
O
autor polariza os conceitos de Individualismo, Objetivismo, Instrumentalismo e
Realismo para defender o Objetivismo como a melhor alternativa na justificativa
da prática científica. O livro é uma boa introdução a alguns dos principais
autores e talvez o seu maior mérito seja a riquíssima referência bibliográfica
dos temas tratados.
Palavras
chave: epistemologia científica; filosofia da ciência; método científico
SEXTA,
28 DE NOVEMBRO
12
H – METAFÍSICA
Moderação
do mestrando Pedro Vasconcelos Junqueira de Gomlevsky
•
Considerações sobre a substância no
discurso de Aristóteles
Doutorando
Flávio de Britto Pinto – PPGF/UFRJ
•
A essência e a função de um ser vivo em De Anima II.1
Doutorando
Pedro Fonseca Tenório – PPGF/UFRJ
• Avicena e a
tradição:
argumentos
contra as definições substanciais da alma segundo o Livro sobre a alma
Doutoranda
Meline Costa Sousa – UFMG
•
O Canto das Sereias em Blanchot, Deleuze
e Klossowski"
Doutorando Adriano Henrique de Souza Ferraz –
EFLCH/UNIFESP
•
Considerações sobre a substância no discurso de Aristóteles
Doutorando Flávio
de Britto Pinto
PPGF/UFRJ – CNPq
Orientador:
Fernando Rodrigues
Apoiado
em passagens da Metafísica e do De Anima, o trabalho buscará extrair elementos
favoráveis à compreensão da função desempenhada pela noção de substância no
interior do discurso de Aristóteles, seja com relação ao movimento, seja no que
concerne à alma.
A
crítica da separação da essência em relação aos existentes dá-se em função da
concepção platônica das ideias como seres em ato. Isso não entra em contradição
com a consideração do movimento em si (isto é, enquanto princípio) em
Aristóteles. Nesse sentido, a essência do movimento não existiria em ato,
separada dos existentes, mas também não precisaria ser tratada como forma de um
ente singular, isto é, como forma de uma substância, e sem por isso se reduzir
a uma generalidade lógica.
O absurdo da tese dos
megáricos é a negação do movimento e da geração. Assim, Aristóteles justifica a
distinção entre dýnamis e enérgeia mostrando que, se a recusarmos, o nosso
conhecimento sobre os entes naturais e o próprio significado das palavras que
usamos nesse propósito se dissipariam. No entanto, é nessa operação mesma que
se vê emergir a instância daquilo que não está em movimento e nem se gera e que
serve de referência para dizer que coisas singulares no mundo existem
verdadeiramente.
Palavras-chaves: Substância, movimento,
alma.
• A essência e a função de um ser
vivo em De Anima II.1
Doutorando Pedro
Fonseca Tenório – PPGF/UFRJ
PPGF/UFRJ – CAPES
Orientador: Fernando Rodrigues
A cominicação consiste
na apresentação da primeira definição geral de alma que Aristóteles formula no
livro de De Anima II.1, com ênfase no
esclarecimento da alma como a forma de determinação da substância, como o tò tí en eínai dos seres vivos.
Dentre os três sentidos
discutidos em Metafísica (livro Zeta)
de substância, como forma, como matéria e como o composto de ambas, Aristóteles
percebe que a substância como forma é a que mais se aproxima da alma, restando
o corpo fazer as vezes da matéria no composto. Ainda assim, há algo na
substância do ser vivo que não é apenas uma forma, mas é toda uma organização
de vida, que somente pode ocorrer na atividade própria ao ser vivo.
Para explicitar o que
seja a essência e a alma do ser vivo, Aristóteles se utilizou, como exemplo, no
início do livro II de De Anima de um
instrumento produzido que teria uma alma ou uma função própria para realizar,
sem a qual não seria mais o que é. Tal exemplo não ajudaria tanto na
compreensão da definição de alma quanto o da passagem de Ethica Nicomachea, na qual se busca a definição de ἐυδαιμονία, a felicidade, conhecida como
o argumento do ἔργον, ou da função.
Tentarei, portanto,
mostrar através desta passagem, no que consiste a alma segundo a primeira
definição dada por Aristóteles no referido trecho de De Anima.
Palavra-chave: essência, alma,
função.
•
Avicena e a tradição: argumentos contra
as definições substanciais de alma
segundo o Livro sobre a alma
Doutoranda Meline
Costa Sousa
PPGF/UFMG – CAPES
Orientador: Tadeu Mazzola Verza
O
objetivo desta comunicação é analisar as considerações acerca da alma presentes
no Kitāb al-nafs, com especial
atenção à discussão levantada na seção I.1, a qual trata da sua
substancialidade. Deste modo, o fio condutor será a busca pela definição da alma
tendo em vista a sua relação com o corpo de modo a apontar a insuficiência de
defini-la como faculdade, forma e perfeição dada independência dele. Iniciarei
com a primeira constatação da existência da alma para poder, em seguida,
abordar as definições propostas em I.1 e os raciocínios avicenianos que apontam
como, em todos os casos, o corpo também é pressuposto.
Ainda
que não seja o objetivo desta comunicação traçar uma genealogia das definições
de alma e como outros autores defenderam a sua substancialidade, os argumentos
levantados em I.1 que apontam os limites da definição de alma como forma e
perfeição do corpo evocam a discordância por parte de Avicena das definições de
alma do De anima, no qual a alma é
descrita como forma e perfeição e da Teologia de Aristóteles, no qual o autor,
tentando salvaguardar a autonomia da alma, aponta os limites de defini-la como
forma.
Assim,
poder-se-á discutir o que significa classificá-la na categoria de substância,
quais as implicações desta definição na relação com o corpo e como esta
definição está diretamente vinculada à primeira versão do experimento mental do
homem suspenso no ar apresentada no final de I.1.
Palavras-chave:
Filosofia Medieval; Psicologia; Filosofia Árabe.
• Sobre o tempo na Filosofia de Nietzsche
Mestrando Pedro Poncioni Mota
PPGF/UFRJ – CNPq
Orientadora: Adriany Ferreira de Mendonça
Pretendemos problematizar na obra de Nietzsche,
mais especificamente a partir de seu Assim
falou Zaratustra, as relações entre sua perspectiva filosófica e o conceito
de tempo, entendendo tempo tanto pelos seus três modos na perspectiva
cronológica (passado, presente, futuro), quanto por sua formulação pelo
conceito de eterno retorno.
Partindo dessa temática pretendo defender a
hipótese de que a questão da afirmação da vida está ligada de maneira
intrínseca a uma perspectiva “trágica” acerca do tempo, dito de outra maneira,
através de uma reinscrição da temporalidade e da eternidade no discurso
filosófico sem os pressupostos da metafísica tradicional que desvalorizariam a
existência em nome de uma eternidade atemporal.
Nossa hipótese central é que o pensamento do
eterno retorno é justamente aquele que reinscreve a eternidade na
temporalidade, desvelando uma “eternidade temporal”. Para tal pretendo discutir
a questão da “superação” da metafísica levando em conta que segundo Nietzsche,
“a crença dos metafísicos é a crença na oposição dos valores” e nesta a
oposição fundamental para a questão a ser desenvolvida: a oposição entre ser e
vir-a-ser e principalmente, entre a eternidade e o tempo, sendo o ser e a
eternidade os pares avaliados com o valor supremo pela tradição. Levando em
consideração que Nietzsche entende a metafísica, sobretudo em sua obra tardia,
como o pensamento que cinde o mundo em dois âmbitos distintos e os opõe.
Palavras Chaves: Vontade de poder, Tempo, Zaratustra.
•
"O Canto das Sereias
em Blanchot, Deleuze e Klossowski"
Doutorando Adriano
Henrique de Souza Ferraz
EFLCH/UNIFESP -
CAPES
Orientador: Sandro Kobol Fornazari
Há uma experiência fundamental
compartilhada por estes autores à qual Blanchot nomeou, numa inspiração
homérica, como "o canto das sereias". Esta experiência consiste no
silêncio que mantenho, que me imponho e ao qual me submeto para que o Outro
possa vir a falar em seu murmúrio incessante. Nesta chave encontra-se o que talvez
se delineie como “futuro do pensamento” ou mesmo como o “além-do-homem”. É
talvez dando voz aos fantasmas que rondam a literatura, e ao que ela sonda na
profundeza, que a filosofia pode encontrar novos caminhos para o pensamento.
Assim como o canto das sereias,
surgem espécies de conceitos móveis, assaz literários, que dançam sobre um
mesmo plano de imanência. Vemos, assim, como se articulam Morte e Infinito em
Blanchot, Diferença e Repetição em Deleuze, Fantasma e Simulacro em Klossowski.
Tratam-se de matizes de uma tarefa muito interessante: o empirismo
transcendental. Discussão acerca do limite da razão e da consciência em
detrimento do impensável, do inconsciente e daquilo que já não sou. Assim como
Foucault falara no Theathrum
Philosophicum: quando o pensamento se torna um transe, aí vale a pena
pensar. Esta comunicação deverá enfatizar o modo pelo qual estes autores
compartilham esta veia nietzschiana e operam uma faceta interessante da
filosofia francesa contemporânea.
Palavras-chave:
Filosofia francesa contemporânea; empirismo transcendental; canto das sereias.
SEXTA,
28 DE NOVEMBRO
15
H – ÉTICA
Moderação da Professora Susana de Castro – PPGF/UFRJ
•
Montaigne e a arte da conversação como projeto moral
Mestrando
Mateus Masiero - UNICAMP
•
A desordem na linguagem moral
contemporânea
Doutoranda
Flora Rocha Cardoso – PPGF/UFRJ
• A Ética do futuro, de Hans Jonas,
e
o modelo aristotélico para a ecoética proposto por Pierre Aubenque
Doutoranda
Sarah Oliveira de Moura – PPGF/UFRJ
•
A influência de Spinoza na filosofia
ética de Hans Jonas
Mestranda
Michele Bobsin Duarte – PUC-Rio
•
Subjetividade e ética em Lacan
Mestranda
Taís Bravo Cerqueira - UFF
• Montaigne
e a “arte da conversação” como projeto moral
Mestrando Mateus
Masiero
PPGF/UNICAMP –
FAPESP
Orientador: Roberto Romano da Silva
O
objetivo desta comunicação será analisar determinados aspectos do pensamento de
Michel de Montaigne (1533 – 1592) no intuito de evidenciar a relação existente
entre as críticas empreendidas pelo autor ao pedantismo, a importância da
conversação, e uma espécie de “projeto moral” (chamaremos assim) mais
abrangente.
Montaigne
estabelece a conversação como a principal fonte de instrução, e o pedantismo o
seu mais poderoso obstáculo; ao longo dos Ensaios, tal postura será recorrente,
mas talvez seja no livro III da obra (sobretudo em capítulos como Da arte da conversação e Da experiência) que se torna patente o
quanto tais concepções se vinculam ao intuito de propor um novo tipo de moral.
À
essa época, Montaigne estabelece como preceito a ser seguido a maleabilidade e
inconstância, de modo a evitar todo tipo de rigidez e obstinação; ele prega uma
virtude amena e agradável, afastando-se do ideal estoico que o influenciara
outrora.
Assim,
retraçaremos o caminho percorrido pelo pensamento montaigniano, partindo das
críticas ao pedantismo e passando pela apologia da conversação como instrumento
de instrução desse tipo de moral proposto. Por fim, pretendemos mostrar que a
inovação estética dos Ensaios pode ser vista como uma deliberada tentativa do
autor de construir essa conversação, ou seja, estabelecer um diálogo
construtivo com seus leitores.
Palavras-chave:
pedantismo; arte da conversação; Montaigne.
• A
desordem na linguagem moral contemporânea
Doutoranda: Flora Rocha Cardoso
PPGF/UFRJ – CAPES
Orientadora: Susana de Castro Amaral Vieira
A compreensão da crítica de Alasdair MacIntyre à
modernidade, ao subjetivismo e ao emotivismo dá sentido à sua proposta de
revitalização da teoria ética das virtudes, em Depois da Virtude (1981).
Para MacIntyre, há uma crise moral sem precedentes
na contemporaneidade que está relacionada ao fracasso do projeto iluminista de
justificar a moralidade através de teorias éticas focadas excessivamente na
razão, cuja consequência é o emotivismo, também conhecido como subjetivismo revisado.
Ao elaborar um elo entre o projeto iluminista de
justificar a moralidade e a teoria ética emotivista, o autor parte de uma
indagação sobre a gênese do que considera o estado fragmentário da moralidade
contemporânea, apresentado nos capítulos iniciais e no Posfácio (1984).
MacIntyre inicia sua argumentação descrevendo o estado de fragmentação da
moralidade e de desordem generalizada da linguagem moral e também das práticas
morais.
Esta comunicação tem como objetivo uma compreensão
inicial tanto da hipótese interpretativa apresentada pelo autor, quanto do que
teria levado uma teoria ética insuficiente na caracterização da moralidade a
exercer um papel tão importante na explicação do ethos moral
contemporâneo.
Palavras-chave: Ética, Subjetivismo, MacIntyre.
•
A Ética do Futuro, de Hans Jonas,
e o modelo aristotélico para a
ecoética proposto por Pierre Aubenque.
Doutoranda Sarah
da Conceição Oliveira de Moura
PPGF/UFRJ
Orientador: Ricardo
Jardim
Coorientador: Olinto Pegoraro
Hans
Jonas (1903-1993) dedicou-se, a partir de 1950 até sua morte, à elaboração dos
princípios que fundamentam sua Ética do
Futuro – vida e responsabilidade –, à análise crítica das condições
políticas visando a nova moral, e às implicações éticas da hegemonia tecnocientífica
no campo da medicina. Sua originalidade está em ter sido um dos primeiros a
trazer a tecnologia e a ciência para a instância ética. Segundo Jonas, vivemos
nestes últimos dois séculos uma festa hedonista que consumiu o que a natureza
levou milhões de anos para realizar.
Jonas
propõe um novo imperativo ético, inspirado no categórico kantiano, mas
ampliando-o o modificando-o na essência: “Age de tal forma que os resultados de
sua ação não ameacem a autêntica vida humana futura na Terra”. O eixo axial da
ética jonasiana é a responsabilidade pela vida. Para isso, Jonas defende e
sustenta a prudência como a virtude da Ética
do Futuro, do mesmo modo que Aubenque (1929-) o faz para um modelo
aristotélico para a ecoética.
Aubenque
afirma a prudência pelas mesmas razões que Jonas, e também elabora um
imperativo categórico que visa, além da integridade da natureza, a paz e a
amizade entre os homens. Ora, Jonas é mais humilde, quer algo anterior, quer
garantir a vida e as condições de sua preservação autêntica, pois só pode haver
paz e amizade entre os homens se a humanidade existir. Aubenque afirma o
sentido da ecoética na felicidade, e Jonas sustenta que os homens do futuro
importam na medida em que o homem de hoje e de sempre importa.
Palavras-chaves:
responsabilidade; ecoética; prudência.
• A
influência de Spinoza na filosofia ética de Hans Jonas
Mestranda Michelle
Bobsin Duarte
PPGF/PUC-Rio -
CNPq
Orientador: Edgard
José Jorge Filho
O
presente trabalho tem a intenção de apresentar a influência de Spinoza na
filosofia de Hans Jonas e, consequentemente, as reverberações ético-políticas
na obra O Princípio Responsabilidade,
uma proposta ética para a civilização tecnológica.
Hans
Jonas nos diz no início da obra O
Princípio Responsabilidade que a ética deve estar fundada na metafísica.
Mas, como falar deste tema tão polêmico, que recebeu várias interpretações ao
longo da história ocidental, na contemporaneidade?
Jonas
tenta retomar o tema da metafísica sob uma perspectiva biológica, a qual possui
forte inspiração spinozista. Em The
Phenomenon of Life, o autor demonstra através do método fenomenológico e da
analogia que mesmo nos níveis mais elementares de vida, como, por exemplo, na
bactéria, já se encontra um princípio de liberdade, o qual se identifica com o
metabolismo. E esse princípio de liberdade, “do agir para ser” é necessário,
não contingente e não arbitrário, pois disso depende a permanência no ser. Hans
Jonas, através da associação do metabolismo com a liberdade, reconhece a ação constante
e imanente da potência de manutenção e preservação dos seres na existência.
O
diálogo que Jonas estabelece com Spinoza pode ser entendido como apropriação de
algumas noções spinozistas, tanto no âmbito da metafísica como no da política.
Palavras-chave:
Hans Jonas; Ética; Spinoza.
• Subjetividade
e ética em Lacan
Mestranda Taís
Bravo Cerqueira
PPGF/UFF
Orientador: Cláudio Oliveira
Minha
pesquisa se concentra nos primeiros anos do ensino de Jacques Lacan nos quais
este retoma a obra freudiana, especialmente, a sua teoria do eu. A retomada à
Freud tem como intenção, nos dois primeiros seminários, esclarecer a noção de
eu que a psicanálise propõe enquanto teoria e prática clínica.
A
pretensão do ensino lacaniano tem sua precedência no modo como alguns analistas
aproximaram a clínica freudiana de uma psicologia e a transformam em uma
ortopedia do ego, isto é, uma mera domesticação dos comportamentos. Assim, o
que Lacan realiza em seu ensino é uma crítica à clínica em voga a partir de uma
leitura radical da obra freudiana – leitura que faz uso de uma série de
filósofos, como Platão, Hegel, Spinoza, Descartes e Heidegger.
Acredito
que questionar o modo como sua contemporaneidade pensava e tratava o Eu era uma
ação ética, na medida em que essa clínica ortopédica do ego se une as
concepções do último estágio do capitalismo em que identidade e mercado são
nichos indistinguíveis, ou seja, na medida em que essa clínica faz parte da
reformulação de um imperativo social, que apenas reforça o sadismo do supereu e
a neurose.
Em
meu trabalho gostaria de elucidar como Lacan, ao interpretar o Eu em Freud
enquanto uma função imaginária, uma unidade em que o sujeito é essencialmente
alienado a si mesmo, apresenta o valor filosófico e ético do pensamento
freudiano, além de demarcar a diferença essencial entre a psicanálise e a
psicologia.
Palavras
chave: Subjetividade; Lacan; Psicanálise.
SEXTA,
28 DE NOVEMBRO
18
H – MESA DE PROFESSORES
Moderação da doutoranda Sarah Moura – PPGF/UFRJ
•
“Sobre a finitude de Deus e o problema do mal”
Professor
Alexandre Cabral
Filosofia/UERJ
• “Ética da
solidariedade antropocósmica”
Professor Olinto
Pegoraro
Filosofia/PPGBIO
(Programa
Interuniversitário de Pós-Graduação em Bioética – UFRJ/UFF/FIOCruz/UERJ)
Professor Olinto
foi o coordenador da criação do PPGF/UFRJ, em 1978. Neste ano completa ele 80 anos e 60 graduação em Filosofia.